"Faze, Senhor, que eu, pobre e miserável, seja mensageira de teu amor e misericórdia, para que toda a humanidade possa saber que Bom és Tu"
Santa Maria Bernarda

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Experiência Missionária





“NÃO TENHAS MEDO; APENAS TENHA FÉ.” Mc.5. Senti o chamado de Deus à vida missionária, num encontro para juventude em ocasião de missão na comunidade. Alegria – RS. O padre deixou claro que a Igreja precisava de missionárias/os para evangelizar o povo carente nos interiores da Amazônia, Mato Grosso, África, etc. Que as famílias eram analfabetas, sem catequese e sem Batismo. E apontando para nós jovens, disse: E aqui entre vocês têm muitos que poderiam nos ajudar a salvar esses nossos irmãos. Aí, senti que eu também poderia ajudar, pois sabia ler e podia dar catequese. Decidida, voltei para casa dizendo que vou ser missionária.
Meus irmãos e amigos gozavam de minha decisão... Não foi fácil, a mãe temia minha saúde frágil e alegava ser muito jovem para sair de casa. Com ajuda de um Capuchinho, Frei Líbório, conhecido da família, fui com as Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria Auxiliadora em Marau e depois em Erexim, RS. Eu buscava ser missionária como Francisco e Santa Terezinha. Passei por saudades e sacrifícios, devido as distâncias e ao apego a família. Lembrava que tudo o que pedisse a Jesus Hóstia, alcançaria. Pedia diariamente a perseverança em fazer a vontade de Deus.
“NÁO TENHAS MEDO; APENAS TENHAS FÉ”!
Desde cedo participei de experiências missionárias nas periferias de Erexim. Entrei no Noviciado aos 20 anos e aos 22 parti para as diversas fraternidades do estado de Santa Catarina. Estudando, lecionando e ajudando nos bairros pobres por onde passei. Colaborei no Governo Provincial, na formação das jovens, tendo sempre em vista a missão da Congregação e da Igreja. Sempre assumi com fé, amor e fidelidade a missão que Deus me confiou. Sonhava em ir para a África... Estive na missão do Rio Grande do Norte e Paraiba. Uma nova “Africa” se abriu para mim. Foi uma experiência inesquecível na época da seca, onde morria muita criança de fome e os Prefeitos criavam peru com a merenda das Escolas. Por vezes enterrávamos 3 crianças por dia. Mas nos envolvemos na luta social e política para ajudar estes nossos irmãos sofridos e injustiçados. Trabalho árduo, porém compensador realizou a Província Santa Clara nessa região nordestina através de nossa co-Irmã Aloizia Gueralding e outras. Éramos benquistas pelo povo e pouco desejáveis pelos fazendeiros e autoridades da época.
Voltando ao sul, fui transferida para Abelardo Luz, junto com Ir. Delminda Lara Cardoso, para trabalhar nos assentamentos dos sem-terra. Foi outra experiência que me abriu a visão para o excluído e para o domínio das terras pelos grandes fazendeiros. Moramos em barracos de lona, dormimos em tarimbas com as famílias, partilhando do pouco que tinham. Ajudamos organizar os grupos, preparar as lideranças para a saúde, catequese e escola. Sempre protegidas pela mão de Deus. Andávamos por trilhos nas matas onde ainda não tinha estrada. Passávamos o rio Chapecó em canoas improvisada para salvar gestantes e dar formação para os grupos mais distantes.

Acompanhou-nos para a formação Bíblica, Frei Aroldo Coller e o Pastor Luterano Lobo. Verdadeiros irmãos de caminhada e reflexão. Através deles, tive a felicidade de fazer o CEBI em Barranquilha na Colômbia.. Foi para mim, um ano de graça, a convivência com credos diferentes.
Assim mais preparada podia melhor ajudar este povo. Ir. Ângela Smaniotto foi outro pilar na luta da saúde e da mulher. Andava quilômetros à pé para levar seus conhecimentos e sua fé esperançosa em dias melhores. As mulheres aprenderam a defender-se das doenças, da fome e do frio. Junto a caresc, protegíamos as fontes, organizávamos hortas, criávamos galinhas, patos e angolistas. Fazíamos acolchoados de lã que eram sorteados entre as que trabalhavam. Eram confeccionados agasalhos para as crianças.Com ajuda da Província Santa Clara foi feito um Projeto de Costura, um moinho e um soque de erva mate. Outros pequenos projetos de apicultura, açudes de peixe e vaca leiteira foram concretizados. Foi criada uma Associação de Agricultores para conduzir os projetos na comunidade Ezequil, onde residíamos. Morramos aí, 9 anos sem energia, numa casinha de madeira feita em mutirão pelos agricultores. Foi grande o apoio do Vigário Pe. Genuíno. Aprendemos ser felizes com mínimo, banho de latão, lampião e lequinho para iluminar e preparar as reuniões e estudos. Nossa casa servia para reuniões do INCRA, dos SEM-TERRA e outras. Com o passar do tempo as muitas reivindicações foram trazendo melhoras. Até mesmo um ônibus que mais ficava na estrada do que andava. Mas era o meio de transporte do povo .
Sofremos muita perseguição dos fazendeiros que, aliados ao exército passavam revistas diárias e tiravam os ranchos e ferramentas dos agricultores. Em consequência disso tudo, tive a metralhadora no peito, fui chamada a delegacia, etc... Acusada de fazer a cabeça do povo. Dom José Gomes, bispo de Chapecó nos deu muito apoio, até mesmo com advogado da diocese. A Diretiva Provincial esteve sempre ao nosso lado. Por tudo, somos agradecidas e felizes louvamos a Deus pela defesa da defesa da Vida.
“JAVÉ SERÁ PARA MIM UMA LUZ PERMANENTE”. Is. 60,19.

Ir. Veronice Machado.

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